sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Apartheid?







Meu pai, seu Gabriel, recebeu em 1967 um convite para ir trabalhar na África do Sul, naquela época, se inteirou da situação  do país e decidiu ficar com a família por aqui em Sampa. 

Eu, em 1979, apesar de ter me saído melhor no teste para o papel em determinada apresentação teatral não pude fazê-lo pois todos, colegas e professores, concordaram com a seguinte frase de alguém na disputa " não seria possível que eu fizesse o personagem pois não era da minha cor de pele". Comentei em casa e ouvi a história de meu  pai e sua justificativa. " Lá, África do Sul, teríamos um tratamento ainda muito pior. Em razão disso, decidi não ir."  

A partir daí, e por conta própria, comecei a estudar para entender o que de fato acontecia no mundo sobre essa questão tão simples e altamente explosiva na sociedade ocidental da segunda metade do século vinte e muita coisa ficou clara, uma delas é a realidade do apartheid em diversos níveis e locais sendo talvez a mais importante a seguinte: não há lugar, no mundo em que eu vivo, a aceitação das pessoas com cútis "branca" para que aqueles que são negros e afins estejam em posições de liderança ou destaque.  A não ser que seja no noticiário policial, ou numa partida de futebol, coisas de somenos. É uma afirmação bem simples e pra lá de fundamentada.

O problema é que não tratamos disso claramente. Camuflamos o assunto, o evitamos, desconversamos e fazemos cara-de-paisagem quando surge a questão. Certamente há exceções, e creio que posso contá-los nos dedos, especialmente no Brasil. 

Já em 1982 foi minha vez de receber o convite, não para trabalhar, mas para passear em África do Sul com uma família amiga como presente de formatura. Confesso que fiquei tentado só para ver a coisa de perto, meus pais nem quiseram discutir o assunto. Não fui  e ainda deixei meus presenteadores muito tristes quando fiz uma pergunta bem simples, "se a gente poderia passear pelas ruas de Johannesburg juntos como fazíamos em nosso bairro, ou eu seria apresentado como acompanhante de estimação ?" A família amiga, de origem grega, foi sem mim. 

Anos depois, já terminando o segundo grau, em uma conversa com uma colega que trabalhava em uma agência de empregos, na verdade ela era a filha do dono, recebi uma informação, no mínimo curiosa, mas impossível de ser provada. Foi assim: " muitas empresas que requisitavam pessoas para as suas vagas disponíveis colocavam, em off, o seguinte requisito: qualquer pessoa desde que, não seja de cor ou afins" e essa moça ainda disse o seguinte quando a questionei sobre ela não tomar uma providência: " se mexermos com isso, vamos à falência." 

Seguindo o pensamento de Tata Madiba, chamado Nelson Mandela, não pretendo aqui a defesa da opressão de um grupo sobre outro, mas sim, a possibilidade de vivermos com dignidade e em condições de igualdade não interessando a cor de pele que ostentamos. 

Nesse momento de aparente consternação popular e, nem tanto, preciso perguntar: Quantos secretários de estado o Estado de São Paulo, maior da nação, tem que são de origem negra? E a prefeitura da maior cidade do país? Creio que só o Netinho e ainda assim porque ele é bom de voto, senão já era. 
Pertenço ao seguimento chamado Evangélico Protestante Histórico e conheço ou, quase desconheço, líderes de influência de origem negra. Será que eles não existem? Será pura coincidência? 

Finalizo afirmando o seguinte: Não adianta ficarmos "faceboookeando" em solidariedade a Madiba se não pararmos de brincar ou, continuarmos a fechar os olhos para o nosso comportamento "apartheitico".

Paz e Bem

Zé Liberio

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